Cómoda
Janeiro 26, 2021
Tenho uma cómoda à esquerda
Onde tentei separar
Tudo o que vestia.
A madeira oca foi-se calando
Coberta com tecidos
Que acompanham o espírito
A cada volta que dão.
Uma pele escolhida,
Agasalhos dos dias que passam,
Que nos vão acrescentando camadas.
Muitos afundam,
Perdem-se nas gavetas
E, entretanto, já não sei onde estou.
Tentei separar, reordenar as vestes
Mas as texturas escondem-se por detrás da madeira áspera
E, no fim,
Emaranham-se todas e ficam ali. Sem mim.
Um dia, vou porta fora
Só com a pele que sempre vesti
E não me vou sentir nua,
Vou sentir que renasci.