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O Céu Também Tem Nuvens

Monstros

Janeiro 02, 2021

Um grito estilhaçado

Com a força de mil espadas

Um laivo desgraçado

De quem se abre em alas

A retina aguçada

Pelas águas quebradas

As veias arregaçadas

As garras prontas a espetá-las

 

Duas forças no chão contorcidas

Sabem bem que não é em vão

Todas as pulsões sentidas

Rasgam ventres e vidas despidas

De pudores e inação

 

Monstros em carne rugem por dentro

Um uivar rouco que dá alento

Rebenta a testa, a dor na nuca

Estala a fala, não cala a luta

É aqui entre os meus vértices que perfuro

Tudo o que ficou neste lugar escuro

Não fui lá buscar aquilo que enterrei

Saiu ainda agora, não pediu, não tentei

Abri-lhe a porta, faces rosadas

Do rubor que as cobre quando estão escancaradas

Prestes a viver, correr nas estradas

Invadir o meu ser

Que é lá fora, onde nunca páras.

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